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sábado, 19 de abril de 2025

A Física envolvida no filme: The Core - Uma missão ao centro da Terra


 Título: The Core – Missão ao Centro da Terra


Direção: Jon Amiel

Gênero: Ficção científica / Ação

Lançamento: 2003

Duração: 135 min


Resumo do Enredo


O filme narra a história de uma equipe de cientistas que precisa descer até o centro da Terra para reativar o núcleo do planeta, que misteriosamente parou de girar. Esse evento provoca falhas catastróficas no campo magnético terrestre, o que coloca toda a vida na superfície em risco. A solução proposta é construir uma nave capaz de perfurar as camadas internas da Terra e explodir ogivas nucleares no núcleo para reativar seu movimento.


Análise Física Detalhada:


Apesar de ser um entretenimento de ficção científica, o filme traz uma série de equívocos científicos. Vamos analisar os principais conceitos de Física envolvidos:


1. O Núcleo da Terra Parar de Girar


Na realidade:

O núcleo interno da Terra é sólido e composto principalmente de ferro e níquel. Ele gira em uma velocidade ligeiramente diferente da do manto terrestre, mas é altamente improvável que pare de girar repentinamente.

O campo magnético da Terra é gerado por movimentos de convecção no núcleo externo líquido (teoria do dínamo geodinâmico). A paralisação completa desses movimentos é extremamente improvável e não ocorreria sem sinais por milhões de anos.


No filme:

O núcleo simplesmente "para", o que é fisicamente incoerente, já que as leis da conservação do momento angular impediriam essa parada súbita sem a ação de forças externas gigantescas.


2. Campo Magnético da Terra e Catástrofes


Na realidade:

O campo magnético terrestre nos protege da radiação solar e cósmica. De fato, se ele enfraquecesse drasticamente, haveria aumento da incidência de radiação ultravioleta e auroras em regiões incomuns, mas não causaria explosões ou mortes imediatas como retratado no filme.


No filme:

O enfraquecimento do campo magnético provoca mortes instantâneas por radiação e efeitos catastróficos em equipamentos eletrônicos, o que é um exagero.


3. Construção de uma Nave para o Núcleo (Virgil)


Na realidade:

Nenhum material conhecido pode suportar as pressões (até 3,5 milhões de atm) e temperaturas (acima de 5.000 °C) do núcleo terrestre.

A perfuração até o manto já é um desafio gigantesco (o projeto real mais profundo, Kola Superdeep, atingiu cerca de 12 km; o manto está a dezenas de km de profundidade e o núcleo a mais de 2.900 km).


No filme:

A nave "Virgil" é construída com um "material fictício" chamado Unobtainium, que converte calor em energia elétrica e suporta qualquer pressão. Esse material não existe e é um clássico exemplo de “licença poética” da ficção científica.


4. Detonação de Ogivas Nucleares para Reativar o Núcleo


Na realidade:

Explosões nucleares não seriam capazes de reiniciar os movimentos de convecção do núcleo. A quantidade de energia necessária é inimaginavelmente maior do que qualquer arsenal nuclear existente.

Além disso, o comportamento do núcleo é regido por processos térmicos e gravitacionais complexos, e não pode ser "ligado" com bombas.


No filme:

O plano é explodir uma sequência de bombas nucleares em pontos estratégicos do núcleo para reiniciar sua rotação. Isso é fisicamente impossível e ignora completamente a escala de energia e os processos envolvidos.


5. Comunicação e Navegação no Subsolo


Na realidade:

Ondas de rádio não se propagam bem através de rochas densas e profundas, e a comunicação com o interior da Terra seria extremamente limitada.

A navegação sem GPS e com pouquíssimos dados sísmicos seria quase impossível.


No filme:

A tripulação consegue se comunicar e navegar no subsolo com precisão surpreendente, o que também é inviável com a tecnologia atual.


Aspectos Positivos


Apesar dos absurdos científicos, o filme levanta alguns temas interessantes:

A importância do campo magnético terrestre para a vida.

A estrutura interna da Terra (crosta, manto, núcleo externo e interno), ainda que retratada de forma exagerada.

O trabalho colaborativo entre diferentes áreas da ciência (geofísica, engenharia, computação).


Conclusão: Ciência x Ficção


The Core é um exemplo clássico de ficção científica que ignora os princípios básicos da Física, mas proporciona entretenimento e pode ser uma porta de entrada para discussões científicas em sala de aula. Para professores, é uma boa oportunidade de fazer uma atividade crítica, incentivando os alunos a distinguir ciência real de ficção.

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