DISCALCULIA: DESAFIOS, POSSIBILIDADES E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INTERDISCIPLINARES NO CONTEXTO ESCOLAR
1. INTRODUÇÃO
Você já se perguntou por que alguns alunos enfrentam tantas dificuldades com a matemática, mesmo quando têm bom desempenho em outras disciplinas? E quando o ensino é reforçado, adaptado e ainda assim o problema persiste? Isso pode ser mais do que simples "preguiça" ou "falta de atenção". Pode ser discalculia, um transtorno de aprendizagem específico, ainda pouco compreendido no cotidiano escolar.
A proposta deste trabalho é mergulhar de forma profunda e objetiva na temática da discalculia, desmistificando conceitos e oferecendo práticas pedagógicas fundamentadas, interdisciplinares e contextualizadas, com apoio da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional).
2. O QUE É DISCALCULIA?
A discalculia é um transtorno específico de aprendizagem, com base neurológica, que afeta a habilidade de compreender e manipular números. Assim como a dislexia impacta a leitura, a discalculia compromete a compreensão de conceitos matemáticos básicos, como quantidade, operações, medidas, proporções e até mesmo o senso numérico.
2.1 Tipos mais comuns de discalculia:
Verbal: dificuldade em nomear números ou termos matemáticos.
Prática: dificuldade em usar objetos ou materiais concretos para resolver problemas.
Lexical e Gráfica: dificuldade na leitura e escrita de símbolos matemáticos.
Ideognóstica: dificuldade de compreender ideias matemáticas.
Operacional: dificuldade de executar operações simples e resolver problemas.
3. CONTEXTO ESCOLAR E DIAGNÓSTICO PRECOCE
No dia a dia da escola, é comum ouvir frases como:
"Ele não consegue decorar a tabuada de jeito nenhum."
"Mesmo com explicações repetidas, ela não entende o troco no supermercado."
"Ele se perde nas contas, mas escreve bem e se comunica com clareza."
Esses indícios, quando frequentes e persistentes, podem sinalizar a necessidade de uma avaliação psicopedagógica e neuropsicológica, preferencialmente realizada em parceria com a escola e os responsáveis.
Diagnosticar precocemente é fundamental. Quanto antes se compreende o transtorno, mais eficazes são as estratégias de apoio e superação.
4. EMBASAMENTO LEGAL: LDB E BNCC
4.1 LDB – Lei 9.394/96
Art. 58 e 59: Determina que a educação especial deve ser oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, garantindo currículo adaptado, atendimento especializado e formação de professores.
Art. 4º: Assegura o direito à educação para todos, com igualdade de condições e permanência na escola.
4.2 BNCC – Base Nacional Comum Curricular
A BNCC reforça o papel da escola em garantir aprendizagens essenciais para todos, respeitando os diferentes ritmos e estilos de aprendizagem. No campo da Matemática, espera-se desenvolver competências como:
Compreensão de números e operações básicas;
Capacidade de resolver problemas do cotidiano;
Leitura e interpretação de informações quantitativas;
Raciocínio lógico, crítico e criativo.
Na BNCC da Educação Infantil e Ensino Fundamental, as habilidades ligadas à Matemática devem ser desenvolvidas por meio de experiências lúdicas, concretas e contextualizadas, essenciais para alunos com discalculia.
5. INTERDISCIPLINARIDADE E CONTEXTUALIZAÇÃO: UM CAMINHO EFICAZ
5.1 Matemática com Arte
Criar atividades que envolvam desenho, pintura e colagem para ensinar formas geométricas, quantidades e medidas pode ajudar alunos com discalculia a desenvolver o raciocínio visual e espacial. Ex: criar um mosaico com figuras geométricas e calcular a área ocupada por cada forma.
5.2 Matemática com Língua Portuguesa
Produzir histórias em quadrinhos onde os personagens enfrentam situações-problema envolvendo dinheiro, tempo e quantidade. Isso ativa a linguagem, o raciocínio lógico e a imaginação, reforçando o significado dos números de forma prática.
5.3 Matemática com Ciências
Experimentos simples, como medir a quantidade de água em diferentes recipientes, pesar alimentos ou cronometrar tempos de reação em experiências, ajudam os alunos a entender medidas e proporções de forma prática.
5.4 Matemática com Educação Física
Jogos que envolvam contagem de pontos, tempo de atividades, somas e sequências (como circuitos com repetições) são ótimos para reforçar conceitos matemáticos com movimento e ludicidade.
6. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E DINÂMICAS
6.1 Adaptações metodológicas
Uso de materiais concretos (cubos, ábacos, jogos);
Caderno de apoio com roteiros simplificados;
Avaliações adaptadas (mais visuais, menos texto);
Tempo estendido para realização de atividades.
6.2 Ferramentas tecnológicas
Apps como "Matemática com o Monstrinho" e "Tabuada do Dino";
Plataformas como o Khan Academy, com vídeos didáticos curtos;
Jogos digitais com progressão de níveis e reforço positivo.
7. O PAPEL DO PROFESSOR E DA ESCOLA
Mais do que ensinar fórmulas, o professor precisa:
Observar atentamente os alunos;
Evitar rótulos e julgamentos;
Trabalhar em parceria com os serviços de apoio (psicopedagogos, psicólogos);
Estabelecer relações de confiança com o aluno e a família;
Promover uma cultura de valorização da diversidade na aprendizagem.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A discalculia é um desafio real, mas não é um obstáculo intransponível. Quando compreendida e enfrentada com sensibilidade, compromisso e criatividade, ela se transforma em uma oportunidade para reinventar a prática pedagógica, tornar o ensino mais significativo e fazer da escola um lugar verdadeiramente inclusivo.
Educar é também acolher, respeitar ritmos e criar caminhos possíveis.
9. REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. MEC, 2018.
BUTTERWORTH, Brian. O Cérebro Matemático. Porto Alegre: Artmed, 2005.
LERNER, Delia. Didática da Matemática: Reflexões e Propostas. São Paulo: Ática, 2002.
FONSECA, Vitor da. Discalculia: da teoria à prática. Porto: Porto Editora, 2016.
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